Mais um título para o Sporting, 20ª liga ganha porém 24 vezes em que é considerado campeão nacional, de acordo com o que a própria FPF defende e que decidiu ignorar recentemente.
O Sporting conseguiu o tão desejado título, mas a verdade é que depois de mais uma época em 4º lugar, eram poucos os Sportinguistas que acreditaram numa possível conquista do campeonato. Para mim, o jogo decisivo e que me fez acreditar num Sporting campeão foi a derrota na Luz após dois golos caídos do céu. Foi a gasolina necessária para que o grupo se unisse e arrancasse para uma onda de jogos (tirando o desaire em Guimarães) em que foi completamente dominador.
Destaques da época
Viktor Gyökeres
Um dos destaques foi claramente Viktor Einar Gyökeres. É impossível não salientar o sueco, seja pelo seu contributo individual direto (56 G/A), bem como a sua capacidade de esticar a equipa quando é necessário, arrastar defesas devido ao foco crescente que os treinadores adversários lhe foram dando com o avançar da época (na minha opinião, algo excessivo e que Pedro Gonçalves e Francisco Trincão aproveitaram). É um dos melhores avançados que passou por Portugal nos últimos tempos e com uma influência gigante logo na primeira época que realizou no nosso campeonato. Foi tanto ou tão pouco que acabei por escrever isto num dos primeiros jogos da pré-época que foram transmitidos:
Como podemos observar, o raio de ação do sueco é bastante superior ao dos dois maiores rivais durante a temporada: Rafa Mújica (que já partiu rumo ao Qatar) e Simon Banza, sendo este último o que mais se aproxima de Viktor.
Comparação entre Gyokeres, Mújica e Banza. Fonte: DataMB
Outra forma de conseguirmos verificar o impacto do sueco na equipa do Sporting e observarmos como é um avançado bastante completo, é analisando o seu trabalho defensivo. Na tabela abaixo, tendo em conta as 7 melhores ligas europeias, podemos ver que Viktor lidera a posse de bola ganha no último terço, estando acompanhado por Pedro Gonçalves.
Ainda dentro das comparações com base nas 7 melhores ligas europeias, observamos que o sueco vai acabar esta época com mais de 300 toques na bola dentro da área adversária, superando jogadores como Bukayo Saka ou Salah.
Morten Hjulmand
Morten Hjulmand, o polvo dinamarquês e, segundo Rúben Amorim, o "jogador mais completo" para a posição 6 desde que assumiu o papel de treinador do Sporting. Muito semelhante à passagem de Nemanja Matic em Portugal, é um jogador que qualquer adepto inveja pois é rara a vez em que a bola não sai redonda dos seus pés ou que não encontra um colega mais avançado no terreno com os seus passes verticais. Defensivamente, permite que o seu colega de setor se possa juntar à linha mais avançada, já que o espaço será coberto com bastante facilidade.
Esta foto não foi escolhida ao acaso: Paulinho tem 15 (!) ações com impacto direto no resultado, segundo a GoalPoint.
Paulinho viveu muito bem com este novo papel de suplente em maior parte dos jogos. Contribuiu para a equipa com 27 G/A e foi o autor de vários golos decisivos, sendo que considero o golo que marca ao Vizela como o mais decisivo. Foi importante termos começado o campeonato com uma vitória, isto depois de um época dececionante e aquém dos objetivos.
Os redentores
Porquê os redentores? A verdade é que este campeonato foi uma agradável surpresa, com a confirmação do valor de certos jogadores, que foram aparecendo em diferentes fases da época.
Geny Catamo
Geny Catamo, após dois empréstimos ao Marítimo e ao Vitória, era considerado dispensável e estaria muito provavelmente na porta de saída. Porém, a pré-época mudou tudo. O moçambicano foi aparecendo como ala direito, uma posição que era deficitária no plantel desde a saída do Pedro Porro. Não começando a época a titular, já que a titularidade estava entregue a Ricardo Esgaio, a verdade é que sempre que entrava para o seu lugar, o impacto era imediato. Muita verticalidade, sem medo de ir no 1x1, levou a que Amorim tivesse que lançar o Geny(o) no corredor direito, equilibrando inicialmente com Matheus Reis no corredor contrário. Em baixo, podemos também entender o porquê de Amorim ter tentado a contratação de Samuel Lino para ala esquerdo do Sporting, ainda nos tempos em que atuava no Gil Vicente.
Embora Geny tivesse este virtuosismo inicial, com o decorrer da época mostrou a vertente de lançador, baixando mais no corredor, como pode ser observado abaixo.
Geny lançou Viktor Gyökeres que assistiu Pedro Gonçalves contra o Porto.
Geny lança o sueco na profundidade, que ultrapassa com alguma facilidade Otamendi.
Eduardo Quaresma
Quem diria que ao ver o 11 inicial contra o FC Porto, iríamos (re)encontrar aquele Eduardo Quaresma que encantava na formação do Sporting. Forte no 1x1 defensivo, rápido na antecipação e uma qualidade muito acima da média quer na progressão, quer no passe. Foi este o Eduardo Quaresma que decidiu aparecer para secar completamente o Galeno e que manteve o rendimento sempre que foi chamado a jogo. Em baixo alguns dados sobre a época de Quaresma.
Francisco Trincão
Francisco Trincão tardou a mostrar o rendimento que o levou até à Catalunha, proveniente de Braga. Tapado "só" por Lionel Messi, o português viu o seu tempo de jogo a reduzir bastante, num clube que vive ainda uma grande instabilidade desde os últimos tempos de Josep Maria Bartomeu. Trincão foi ainda emprestado ao Wolves, porém foi um empréstimo sem grande impacto já que foi titular em menos de 50% dos jogos em que disputou na época 2021/2022. Na época transata ingressou no seu clube, por empréstimo com opção de compra. Foi uma época de altos e baixos, sendo que na minha opinião conseguiu terminar a época a um nível muito bom. Ainda que no inicio da época 2023/2024 tenha estado novamente abaixo do esperado, foi em Dezembro que Trincão explodiu ao nível que tinha apresentado em Braga e nas seleções nacionais jovens. Trincão tem um pé esquerdo que não engana, é muito forte no 1x1 e tem remate fácil. Diria que a característica menos favorável do seu jogo é o facto de ser muito dependente apenas do pé esquerdo.
Percentis de Francisco Trincão, versão 2023/2024
Quando falamos de Francisco Trincão, os dados não mentem. Apesar de apenas ter 20 G/A na época, os percentis que apresentou nesta época, em ano de europeu, é de alguém que claramente merece estar presente nos 26 de Roberto Martinez. Daniel Bragança
Claramente o jogador que mais duvidei que pudesse demonstrar que afinal conseguiria jogar neste meio campo. Bragança aparece com mais frequência após o retorno de Hidemasa Morita da Taça Asiática. Se Pedro Gonçalves recuou para a posição 8 após a partida do japonês para os compromissos internacionais, Dani foi quem mais beneficiou com esta ausência. Sempre que entrou, conseguiu segurar o meio campo e espalhar magia em campo. Mas isto já tinhamos visto nas poucas aparições de Dani em 2020/2021. O que mais evoluiu foi no aspeto sem bola, sendo que também se notou bastante a evolução física, muito devido à grave lesão que teve no joelho.
Dani Bragança na presente época
Esta evolução física pode ter contribuído para que o Dani se tornasse ainda mais completo pois o que mais lhe faltava era o momento sem bola. É neste momento titular ao lado de Hjulmand e com todo o mérito. Em baixo os dados de Bragança na época 23/24.
Percentis de Daniel Bragança, versão 2023/2024
Franco Israel
Franco Israel, na sua segunda época nos leões vivia, até esta época, na sombra de António Adán. Uma lesão do espanhol, aliada a uma época em claro declínio, levaram a que Franco Israel deixasse de ser apenas o GR das taças para ser o titular. Claramente que o Sporting terá que adquirir um GR de melhor nível na próxima época, mas pode-se considerar que ter Israel como segunda opção é muito bom.
Comparativo entre Israel e Adán
Comparado com António Adán, podemos concluir, logo à primeira vista, que Franco Israel conseguiu trazer alguma segurança à equipa no sentido em que conseguiu ter um rácio de PSxG-GA na ordem dos 80%. Este rácio representa a diferença entre os golos esperados após o remate (PSxG) evitados pelo guarda-redes e os golos sofridos (GA) p/90 minutos. António Adán estava a ter uma época muito abaixo do que já conseguiu, sendo que era raro conseguir defender maior parte dos poucos remates que sofria por jogo. Em termos de controlo espacial, como podemos observar, não são 2 GR's que consigam ser dominantes neste aspeto do jogo, quando por exemplo comparados com o GR que domina esse aspeto do jogo: Diogo Costa
Com a evolução desta época, em que o Sporting se instalou cada vez mais no meio campo adversário, é necessário olhar para um GR que tenha a capacidade de controlar melhor o espaço. À data deste texto, fala-se no interesse em Léo Jardim, que foi um GR que já esteve em Portugal e encantou. Outro GR que se falou foi Nubel, que renovou recentemente com o Bayern Munique e seguirá no Estugarda por mais 2 épocas.
Comparação entre dois alvos avançados
Honorable Mentions: Nuno Santos e Pedro Gonçalves
É injusto falar desta época e não falar desta dupla. Nuno Santos é um jogador que, pessoalmente, tenho uma relação amor/ódio no sentido em que é demasiado previsível nas suas ações, porém quando resultam é muito difícil de o parar. Nuno Santos chegou às 18 assistências na época (a sua melhor época na carreira), porém só isso não é suficiente, já que teria que ser mais competente defensivamente para ganhar a luta com a elevada concorrência que tem para o seu lugar (Nuno Mendes e Guerreiro). Porém, quando comparando os dados, Nuno Santos teve um desempenho muito semelhante, em termos de percentis, a Dimarco, que é para mim um dos melhores laterais esquerdos da atualidade.
Já Pedro Gonçalves voltou a ter uma época de grande impacto no Sporting. 34 G/A são números muito bons, sendo que ainda fez 13 jogos como "8", ainda que o seu posicionamento fosse semelhante ao que ocupa quando atua no trio da frente. A versatilidade que tem, aliada à capacidade que tem de finalizar ou assistir o colega é o que me faz acreditar que claramente estará nos 26 de Roberto Martinez. Em baixo seguem-se os dados sobre a época de Pedro Gonçalves.
Um pedido de desculpas ao "El Capitán"
Se há jogador que agarrou este plantel, em alguns momentos de aperto, foi o capitão. Em termos de rendimento, Coates vai perdendo cada vez mais a sua capacidade derivado à lesão que teve em inicio de carreira no joelho. Mas tudo o resto que ele consegue dar neste momento é a calma e serenidade à linha defensiva. Em termos teóricos e de rendimento, claramente que a tripla Juste-Diomande-Inácio é indiscutivelmente a melhor tripla de centrais do Sporting. Porém não têm a experiência de Coates, que por vezes é pouco valorizada, sendo eu o maior exemplo que vocês podem ter. Recordo-me de dois jogos em que a sua entrada em campo teve bastante impacto na maneira do Sporting se sentir em campo. Primeiramente falo da segunda parte contra a Atalanta, em casa, na fase de grupos. A tranquilidade e liderança que trouxe a equipa permitiu com que a equipa crescesse e reagisse ao ponto de quase conseguir o empate. O segundo jogo foi para a Liga, contra o Chaves fora. Eduardo Quaresma estava a cometer alguns erros individuais que comprometiam a estabilidade da equipa. O capitão é novamente chamado a jogo e consegue estabilizar o jogo da equipa, sendo que a segunda parte é logo resolvida nos primeiros minutos da segunda parte. Devemos valorizar mais o impacto de Coates no Sporting, já que é claramente um dos principais pilares da equipa. Daí necessitar de terminar este artigo com um pedido de desculpas à não valorização correta do nosso capitão.
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